quinta-feira, 10 de novembro de 2011

ALTERAÇÕES NA FLORA DA BAIA DE GUANABARA

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS

ALTERAÇÕES NA FLORA DA BAIA DE GUANABARA
A ILHA DA BOA VIAGEM

José Antonio Muniz
Monografia apresentada para
obtenção do Grau de Especialista
em Gestão Ambiental
Julho/2000

INTRODUÇÃO
            Há muitos anos a flora marinha bentônica da Baia de Guanabara vem sendo estudada. Os primeiros relatos ocorreram no século passado como o de Montagne (1839).
            Em 1930, Taylor publica um trabalho onde cita várias algas para a Baia de Guanabara.
            Em 1931, o mesmo autor descreve espécies novas para a ciência e para região.
            Em 1945, Oliveira cita a nível de gênero, algumas algas das região, em trabalho de cunho ecológico. Outros trabalhos do mesmo autor citam algas em diversos pontos da Baia de Guanabara (1947, 1950 e 1958) citando dados para recuperação da Baia em 1976.
            Em 1955, Oliveira e Krau cita diversas plantas para ambientes de manguezal na Baia.
            Em 1960, Taylor cita várias espécies que ocorrem na Baia de Guanabara em seu monumental trabalho revisional, tornando-se referência para trabalhos no local.
            Em 1960, Silva cita a ocorrência de espécies do gênero Codium, citando a área em questão.
            Em 1969, Joly e outros citam a ocorrência de Bryopsis corymbosa para a Baia de Guanabara.
            Em 1970, Yoneshigue-Braga inicia a publicação da Flora Marinha bentônica da Baia de Guanabara, tornando-se marco inicial de trabalho de cunho florístico de uma região em nosso estado. Em seguida, no mesmo ano, publica o segundo fascículo.
            Em 1971 a mesma autora descreve o 3º fascículo de seu trabalho florístico.
            Em 1971, Oliveira Filho e Yoneshigue-Braga descrevem uma nova espécie para o local em questão.
            Em 1972, Yoneshigue-Braga publica o último fascículo da Flora do Local, no mesmo ano, esta autora e Peixoto citam a ocorrência de uma nova planta para as águas da Baia de Guanabara.
            Em 1974, Mitchell e outros descrevem a ocorrência de diversas algas de ambientes de manguezal da Baia de Guanabara.
                Em 1977, Oliveira Filho reúne todas as citações de algas marinhas bentônicas para o litoral do Brasil, incluindo material de herbário e observações de campo onde constam diversas indicações para a Baia de Guanabara. No mesmo ano, a FEEMA apresenta vários estudos ambientais realizados na Baia de Guanabara.
            Em 1979, Pedrini e Braga apresentam resultados preliminares sobre incrustação biológica, citando diversas algas para a Baia de Guanabara. No mesmo ano, Mitchell e colaboradores descrevem várias espécies de algas verdes para o local pesquisado.
            Em 1983, Muniz apresenta alguns aspectos fitossociológicos sazonais de comunidades ficológicas do local.
            Em 1984, Teixeira e colaboradores descrevem o comportamento de comunidades de algas que ocorrem em poças de maré no local pesquisado. No mesmo ano, a mesma autora descreve sobre aspectos populacionais de uma espécie de alga da região.
            Em 1987, Muniz descreve, utilizando índices de similaridade, o comportamento de fico-comunidades no local. No mesmo ano, Teixeira e colaboradores citam a estrutura de diversas fico-comunidades da Baia de Guanabara sob os aspectos relacionados à poluição.
            Em 1998, a FEEMA publica os resultados dos Programas Ambientais Complementares referentes ao Programa de despoluição da Baia de Guanabara.
OBJETIVOS
·         Analisar o status-quo da flora marinha bentônica da Baia de Guanabara quanto aos seus aspectos florísticos, comparando-os com as de décadas anteriores e floras vizinhas.
·         Analisar a estrutura das comunidades fico-bentônicas quanto a itens tais como o índice de diversidade, como forma de estabelecer a “saúde” ambiental da ecologia local.
·         Utilizar estes parâmetros na crítica ao atual projeto ambiental para a Baia de Guanabara.
MATERIAL E MÉTODOS
A.   Levantamento Florístico
Para o levantamento florístico da flora da região utilizou-se os métodos usuais de coleta e preservação de amostras em Botânica Marinha (Lawrence, 1951 e Taylor, 1960).
Para identificação do material utilizou-se como literatura básica, principalmente os papéis: Yoneshigue-Braga (1970-1972), Joly (1964) e Taylor (1960). Tendo em vista a desatualização na nomenclatura de algumas espécies citadas nos trabalhos acima, utilizou-se o trabalho de Wynne (1986) como base nomenclatural.
Os espécimes coletados foram fixados e transformados em exsicatas, sendo depositados no herbário particular do autor.
Para estabelecimento da flora da década de 60, utilizou-se como padrão a flora descrita por Yoneshigue-Braga (1970-1972).
Para a flora da década de 1980 utilizou-se vários trabalhos neste período (ver histórico) e exsicatas existentes no herbário ficológico do autor.
Para a flora deste momento providenciou-se coleta sistemática na região e consta no corpo deste trabalho.
Para a flora de um possível ambiente natural, como deveria ser o da Ilha da Boa Viagem, utilizou-se os dados encontrados em Pedrini (1977), para ambientes semelhantes a área estudada, o qual trabalhou com a flora da Baia de Sepetiba e que conforme o próprio estudioso, declara ter sido a flora da Baia de Guanabara muito semelhante ao que ele levantou na Baia de Sepetiba.
Para tratamento de um índice para comparação entre a similaridade entre as floras estabelecidas, optou-se pela utilização de uma tabela de contingência 2x2. Esta tabela serve para uma correlação semelhante ao teste Qui-Quadrado (Pielou, 1977; Digby & Kempton, 1987; Smith, 1980; Mueller-Dombois & Ellenberg, 1974; Kershaw & Looney, 1985 e Ludwig & Reynolds, 1988).



A.   Levantamento Fitossociológico.
Para o tratamento estatístico e numérico das comunidades das regiões, utilizou-se o índice de diversidade de Shannon-Weaver (1949).
Para comparação utilizou-se os valores encontrados em Teixeira et al (1987) para a flora da Ilha da Boa Viagem para a década de 1980, os dados levantados pelo autor na região para a atualidade e os dados encontrados em Muniz (1991) para a região de Angra dos Reis (RJ) onde a técnica foi utilizada e a região tem a mesma conformação ecológica da Ilha da Boa Viagem (local protegido), como se fosse presumidamente a flora natural das Baia de Guanabara.
Para levantamento dos dados utilizou-se um quadrado de 15x15 cm atirado aleatoriamente na região seguido de raspagem total do substrato. Tal procedimento já foi utilizado pelo autor (Muniz, 1986 e 1987), e que devido as condições de acentuado epifitismo e inconspicuidade da flora local, melhor se adapta. O fato de tentar procurar entender ou já conhecer os padrões de distribuição e abundância de comunidades, especialmente em costões rochosos, é fator primordial para a decisão quanto aos processos de amostragens nestes locais (Meese & Tomich, 1992; Andrew & Mapstone, 1987 e Sabino & Villaça, 1999).
O valor utilizado para a frequência dos organismos envolvidos foi a presença-ausência dos mesmos nos referidos stands amostrados.
RESULTADOS
            Levantamento Florístico
            De acordo com as figuras abaixo, podemos observar as quantidades de espécies presentes em cada flora analisada.
            Tomando os valores da Baia de Sepetiba (Pedrini, 1980) como supostamente o estágio natural da Baia de Guanabara, nota-se que as regiões da Baia de Sepetiba semelhantes à Ilha da Boa Viagem possuíam 71 espécies, sendo 14 Chlorophyta, 14 Phaeophyta e 43 Rhodophyta.



Os valores encontrados em Yoneshigue-Braga (1970-1972) para a região da Boa Viagem foram de 57 espécies, sendo 18 Chlorophyta, 11 Phaeophyta e 28 Rhodophyta.

 
Para a Ilha da Boa Viagem na década de 1980 existiam 44 espécies, sendo 11 Chlorophyta, 5 Phaeophyta e 28 Rhodophyta.
            Observando a figura 6 podemos analisar que entre a flora da Baia de Sepetiba e a Flora da Boa Viagem na década de 60 o decréscimo no total de espécies foi de 19%. Entre a Flora da Boa Viagem na década de 60 e a Flora da Boa Viagem na década de 80 o decréscimo foi de 23%. E entre a Flora da Boa Viagem na década de 80 e a Flora da Boa Viagem atual, o decréscimo foi de 59%.
 
Entre a Flora da Baia de Sepetiba e a Flora da Boa Viagem atual o suposto decréscimo seria então cerca de 75%.
Por cada divisão das algas superiores encontramos valores de decréscimo de 50% para as Chlorophyta, 74% para as Rhodophyta e 100% para as Phaeophyta.
            Utilizando o dendograma abaixo, observamos que a Flora da Ilha da Boa Viagem era estatisticamente semelhante (nível de 95%) a Flora de locais semelhantes na Baia de Sepetiba. E que a Flora da Ilha da Boa Viagem atual é muito semelhante à Flora do mesmo local na década de 80. E que entre estas duas duplas de Floras semelhantes existe um grande hiato de dissimilaridade.
Levantamento Fitossociológico
Analisando a figura 8 observamos que as espécies mais freqüentes nas amostras realizadas na Ilha da Boa Viagem tratam-se de organismos reconhecidamente oportunistas (Santelices, 1977; Muniz, 1986 e 1987), Teixeira et al, 1987) que graças a sua resistência natural a stress deste tipo, utiliza esta estratégia para ocupar estas regiões. Estas espécies são: Centroceras clavulatum, Ulva fasciata e Cladophora sp1.
 

Estas espécies não estavam presentes nas amostras realizadas em Angra dos Reis (RJ), em locais pretensamente naturais.
Utilizando o índice de diversidade de Shannon-Weaver observamos a grande discrepância entre os valores de locais naturais e da Ilha da Boa Viagem nas duas últimas décadas: 2,80 para Angra dos Reis, 1,48 para Ilha da Boa Viagem na década de 80 e 1,09 para Ilha da Boa Viagem atual.
CONCLUSÃO
            Pelos dados expostos podemos afirmar que a flora da Ilha da Boa Viagem já estava sob o stress da poluição desde a sua descrição em 1970, haja vista as diferenças com a Flora da Baia de Sepetiba para estações ecologicamente semelhantes como por sinal Pedrini (1980) já havia denotado. Aliás, fato parece ser histórico para ambientes de baia no litoral brasileiro (Oliveira Filho & Berchez, 1978).
            O que nos chamou a atenção foi a grande diferença na similaridade entre a provável flora natural e a flora da década de 70 da Ilha da Boa Viagem contra a similaridade entre a flora da década de 80 e a atual flora da região.
            Os dados biológicos tomados pela FEEMA em relação a qualidade das águas da Baia de Guanabara são apenas q quantidade de clorofila-a e o DBO.
Medidas como o comportamento de suas populações e comunidades não são testadas ou monitoradas e por isso consideramos incompletas.
O fato pode ser realçado pelas análises dos índices de diversidade das comunidades neste trabalho, onde as diferenças entre os ambientes naturais com a atual composição da comunidade da Ilha da Boa Viagem são muito grandes.
No entanto, o que poderia ser um fator que prejudicasse a ação para melhoria das águas da Baia, poderia ser a falta de investimento; o que não ocorre, visto que a ajuda externa é muito grande. O que certamente mais dificulta este procedimento são a burocracia e a corrupção que são muito comuns em nosso país.
Além do combate a estes dois flagelos, acrescentamos neste final, também, as próprias recomendações da FEEMA, a fim de priorizar uma recuperação mais rápida deste ecossistema.

REFERÊNCIAS
Andrew, N.L. & Mapstone, B.D. 1987. Sampling and descrition of spatial pattern in marine ecology. Oceanogr.Mar.Biol.AmRes. 25:39-90.
Digby, P.G.N. & Kempton, R.A. 1987. Multivariate analysis of ecological communities. Chapman & Hall. 205 pag.
FEEMA, 1977. Meio Ambiente. Vários estudos.I. Série Técnica. 2/77.
FEEMA, 1998. Qualidade de água da Baia de Guanabara. 1990/1997. Programa de Despoluição da Baia da Guanabara. Programas ambientais complementares. 96 pag.
Joly, A.B. 1957. Contribuição ao conhecimento da flora ficológica marinha da Baia de |Santos e arredores. Bol.Fac.Fil.Cienc.Letr. USP. 14:1-196.
Kershaw, K.A. & Looney, J.H.H. 1985. Quantitative and dynamic plant ecology. 3rd Edition. Edward Arnold. 282 pag.
Lawrence, G.H.M. 1951. Taxonomia das plants vasculares. Fund.Calouste Gulbenkian. 296 pag.
Ludwig, J.A. & Reynolds, J.F. 1988. Statistical Ecology. A primer on methods and computing. J.ohn Willey & Sons. 337 pag.
Meese, R.J. & Tomich, P.A. 1992. Dots on the rocks: a comparison of percent cover estimating methods. JEMBE. 165:59-73.
Mitchell, G.J.P. et al. 1974. Observações ficológicas no manguezal de Piedade. Leandra. 4-5:137-142.
Mitchell, G.J.P. et al. 1979. Sinopse das clorofíceas marinhas bentônicas do litoral do Estado do Rio de Janeiro. Leandra. 8-9:91-123.
Montagne, J.F.C. 1839. Cryptogamae brasiliensis seu plantae celulares quas in itinere per Brasilian. Ann.Sci.Nat.Bot. 12:42-44.
Mueller-Dombois, P. & Ellenberg, H. 1974. Aims and methods of vegetation Ecology. John Wiley & Sons. 547 pag.
Muniz, J. A. et al. 1983. Novas ocorrências para a Baia de Guanabara e arredores. Publ.Inst.Pesq.Mar. 147:4.
Muniz, J.A. 1986. Aspectos sazonais de uma comunidade ficológica bentônica na Baia de Guanabara. Res. 4º Congr.Soc.Bot.S.Paulo.
Muniz, J.A. 1987. Comportamento sazonal de uma comunidade ficológica na Baia de Guanabara. Res. 3º Reun.Bras.Ficologia.
Muniz, J.A. 1987. Estrutura de comunidades ficológicas bentônicas da Baia de Guanabara. Res. 7º Congr.Soc.Bot.S.Paulo.
Muniz, J.A. 1991. Utilização da análise direta de gradientes em comunidades ficobentônicas. Res.5º Reun.Brasileira Ficologia.
Oliveira, L.P.H. 1945. Classificação hidrológica das águas do Oceano Atlântico no litoral do Brasil. Mem.Inst.Osw.Cruz. 42:191-206.
Oliveira, L.P.H. 1947. Distribuição geográfica da fauna e flora da Baia de Guanabara. Mem.Inst.Osw.Cruz. 45:709-734.
Oliveira, L.P.H. 1950. Levantamento biogeográfico da Baia de Guanabara. Mem.Inst.Osw.Cruz. 48: 363-391.
Oliveira, L.P.H. 1958. Poluição das águas marítimas. Estragos na flora e fauna do Rio de Janeiro. Mem.Inst.Osw.Cruz. 56:39-60.
Oliveira, L.P.H. 1976. Estudos aplicados a recuperação biológica da Baia de Guanabara. Mem.Inst.Osw.Cruz. 74:99-145.
Oliveira, L.P.H. & Krau, L. 1953. Levantamento biogeográfico da Baia de Guanabara. II. Crescimento de manguezal na Ilha do Pinheiro. Mem.Inst.Osw.Cruz. 51:503-524.
Oliveira Filho, E.C. & Berchez, F.A.S. 1978. Algas marinhas bentônicas da Baia de Santos – Alterações da flora no período 1958-1978. Bol. Botânica. 6:49-59.
Pedrini, A.G. 1980. Algas Marinhas Bentônicas da Baia de Sepetiba e arredores. Dissertação de Mestrado. UFRJ. 397 pags.
Pielou, E.C. 1977. Mathematical Ecology. John Wiley & Sons. 385 pags.
Sabino, C.M. & Villaça, R. 1999. Estudo comparativo de métodos de amostragem de comunidades de costão. Rev.Brasil.Biol. 59:407-419.
Silva, M.A.M. et al. 1999. Um estudo sobre a dinâmica das Praias de Niterói (Baia de Guanabara. Na Acad. Brasil. Ciências. 71:961-967.
Smith, R.L. 1980. Ecology and Field biology. 3ª edition. Harper & Row. 831 pags.
Taylor, W.R. 1930. Algae collected on the Hassler, Albatroz and Schmitt Expeditions: I. Marine algae from Brazil. Amer.Journ.Bot. 17:621-634.
Taylor, W.R. 1931. A synopsis of the algae of Brazil. Rev.Algol. 5:279-313.
Taylor, W.R. 1960. Marine algae of the eastern tropical and subtropical coasts of the Americas. Univ. Michigan Press. 870 pags.
Teixeira, V.L. et al. 1984. Estudos comparativos de populações de Codium decorticatum em Niterói (RJ), em diferentes condições ambientais. Anais 4º Congr.Soc.Bot. S.Paulo. 87-91.
Teixeira, V.L. et al. 1984. Comunidades de algas bentônicas e fauna acompanhante de poças de maré de Niterói (RJK). Anais 4º Congr. Soc. Bot.. 93-97.
Teixeira, V.L. et al. 1987. Seasonal variations in infralittoral seaweed communities under a pollution gradient in Baia de Guanabara. Ciencia & Cultura. 39:423-428.
Wynne, M.J. 1986. A checklist of benthic marine algae of the tropical and subtropical western Atlantic. Can.J.Bot. 64:2239-2281.
Yoneshigue-Braga, Y. 1970a. Flora marinha bentônica da Baia de Guanabara. I: Chlorophyta. Publ.Inst.Pesq.Mar. 42:1-55.
Yoneshigue-Braga, Y. 1970b. Flora marinha bentônica da Baia de Guanabara. II: Phaeophyta. Publ.Inst.Pesq.Mar. 45:1-31.
Yoneshigue-Braga, Y. 1971. Flora marinha bentônica da Baia de Guanabara. III: Rhodophyta1. Publ.Inst.Pesq.Mar. 55:1-36.
Yoneshigue-Braga, Y. 1972a. Flora marinha bentônica da Baia de Guanabara. III: Rhodophyta2. Publ.Inst.Pesq.Mar. 62:1-39.
Yoneshigue-Braga, Y. 1972b. Flora marinha bentônica da Baia de Guanabara. III: Rhodophyta3. Publ.Inst.Pesq.Mar. 65:1-49.
OBSERVAÇÕES FINAIS
Levar em conta ao ler estes números que:
·         A nomenclatura da época foi preservada.
·         O órgão atual que responde pela FEEMA atualmente é a INEA.
·   O texto foi adaptado, pois foi retirada a parte correspondente a crítica ao Programa de Despoluição na Baia de Guanabara., além das recomendações das FEEMA.
·        Coincidentemente, existe um papel produzido no mesmo período para a mesmo local:




domingo, 6 de novembro de 2011


DIVERSIDADE E DISTRIBUIÇÃO MUNDIAL DE SESQUITERPENOS PRODUZIDOS PELO METABOLISMO SECUNDÁRIO 
DE ALGAS MARINHAS DO
GÊNERO LAURENCIA
José Antonio Muniz
Universidade Santa Úrsula – RJ
Mestrado em Ciências do Mar
          As algas marinhas bentônicas do gênero Laurencia (RhodomelaceaeRhodophyta) são reconhecidas como prolíficas na produção de diferentes metabólitos secundários, tais como: sequiterpenos, acetogeninas, diterpenos e triterpenos, halogenados ou não. Vários destes representam tipos estruturais exclusivos, ainda não observados em outros organismos. Inúmeras classes de substâncias químicas são envolvidas nos processos metabólicos dos organismos, sendo responsáveis pelas mais diversas funções biológicas, comuns a todo ser vivo ou particular de grupos taxonômicos específicos. Os metabólitos secundários são derivados do metabolismo primário e estão envolvidos nos processos de adaptação das espécies ao meio ambiente, sendo particular de um grupo relacionado de organismos, por isto, forte ferramenta no estudo taxonômico destes organismos.


Utilizando-se de cerca de 350 referências da literatura científica, reuniu-se 850 citações de sesquiterpenos, organizados nos seus principais sub-grupamentos (Chamigrane, Cuparane, Brasilenane, Perforane, Bisabolane e Eudesmane) conforme Guella et al (2001), para espécies do gênero Laurencia e gêneros afins como Chondrophycus e Osmundea (Nam,1994), produzindo-se através de uma grade de similaridade (Índice de Bray-Curtis) um plexus indicativo das relações de semelhança entre as floras de 6 regiões geográficas (Japão, Pacifico Americano, Caribe, Canárias, Mediterrâneo e Austrália). A análise da distribuição destes metabólitos (sesquiterpenos) foi realizada e mostra a provável evolução nos arsenais químicos que este grupo taxonômico utilizou para sobrevivência nos ambientes em que são encontrados. Atualmente, acredita-se que a evolução de cada metabólito versus a evolução de cada espécie que o produz está relacionada com a Teoria da Evolução Micromolecular (Gotlieb, 1982).


Observou-se grande semelhança entre as floras do Japão, Pacifico Americano e Austrália. As demais floras comportam-se independentes das restantes, apresentando uma característica única na composição dos tipos de sesquiterpenos que as compõem.
Pôde-se observar, também, um possível deslocamento (ou rota geográfica) de determinado metabólito (grupo sesquiterpênico) ao comparar a composição de cada região com as condições e configurações dos oceanos e continentes a partir do antigo Mar de Tethys.

Referências.
Guella et al. 2001. Calenzanol, the first member of a new class of sesquiterpene with a novel skeleton isolated from the red seaweed Laurencia microcladia from the Bay of Calenzana, Elba Island. Tetrahedron Let. 42:723-725.
Gotlieb, O.R. 1982. Micromolecular evolution, systematics and ecology. Berlin, Springer.
Adaptado do trabalho apresentado no 10º Simpósio de 
Biologia Marinha–UNISANTA –Santos (SP) – 2007
e da monografia do curso de pós-graduação de 
Especialização em Química-UFLA (MG) – 2005.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

KUTZING

                  Agora foram as cópias dos fabulosos trabalhos do Kylin (Die Gattungen der Rhodophyceen) e do Kützing (Species Algarum) que passaram em minhas mãos e lembrei-me do quanto me lamentava não saber alemão para poder ler “apenas” estas obras. Foi quando me lembrei da fama do Kützing.
                           
                Aliás, o alemão Friedrich Traugott Kützing (1807-1893) e sua fama ainda hoje, estão ligadas a “revolução pasteuriana”. Kützing e os cientistas franceses: Schwann (1810-82) e Cagniard-Latour (1777-1859), trabalhando independentemente, demonstraram que a fermentação da cerveja (para sorte dos alemães) e do vinho (para sorte dos franceses) era o resultado da atividade de células
                                            Kützing      Schwann   Cagniard-Latour  Pasteur

                Todas estas historiografias e embates desaguaram nas conhecidas descobertas de Pasteur.
            Franceses e alemães se rivalizavam desde a guerra franco-prussiana o que colocava mais lenha na fogueira. Para sorte da humanidade esta nova modalidade de “guerra” ao contrário da outra, só trouxe benefícios para a civilização.
                Nesta época (1837) os cientistas franceses já eram laureados pesquisadores enquanto Kützing era um modesto farmacêutico e professor em uma escola de uma pequena cidade no noroeste alemão.
                  No entanto, sua prolífica produção intelectual esteve sempre ligada ao estudo das algas.
                Lembro-me ainda de quantas tardes passei na biblioteca do Jardim Botânico do Rio de Janeiro folheando suas Tabulae Phycologicae e me deliciando com suas estampas.
                                    
              Quantos gêneros e espécies de algas descritos por Kützing esbarramos na ficologia nacional?
              Olhe uma pequena e rápida passagem: Bryothamnion, Calliblepharis, Chaetomorpha, Cladophora, Cryptopleura, Hypoglossum, Rhizoclonium, Rhodophyllis, Corallina cubensis, Dictyota ciliolata, Griffithsia radicans, Gracilaria dominguensis, Hypnea cornuta, Hypnea spinella, Polysiphonia denudata, Spyridia aculeata entre outros.
                                                                 Manuscrito de Kützing
                
           Embora exista uma condecoração alemã que utiliza uma medalha com o rosto do Kützing e sua contribuição para o estudo das algas, não obtive sucesso em saber o que festeja.

Taí amigos, até a próxima.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Kathleen Mary Drew-Baker


Recentemente, fazendo uma reforma no escritório, esteve em minhas mãos o clássico “Manual of Phycology” do Gilbert Smith, e folheando-o me deparei com o capítulo da Kathleen Drew e me lembrei de uma antiga conversa com o Pedrini sobre esta pesquisadora e no quanto foi importante o seu trabalho não só para a ciência como para a humanidade em especial para os japoneses.
                Vou iniciar esta seção no blog retratando estes personagens que escreveram seus nomes na história a partir de suas ações na ficologia.
                E começaremos com um nome que é um símbolo na ficologia:
Kathleen Mary Drew-Baker.
                Não faremos uma biografia ou algo assim, mas buscaremos retratar estas pessoas com informações sobre aspectos de sua personalidade ou como mudaram a ciência, seu mundo e outras vidas, sempre de uma forma informal e que certamente mais influenciaram estes personagens em suas pesquisas e visões. Para uma revisão mais científica para Kathleen Drew indico o resumo dos obituários publicados no Boletim Ficológico Britânico.
                                                                 Fonte: http://www.seaweed.ie/aquaculture/noricultivation.html
                Viveu no inicio do século passado (1901-1957), sendo uma das primeiras a adquirir o título acadêmico de Botânica com honras na Europa pela Universidade de Manchester (1922).
                                                          Fonte:  http://www.flickr.com/photos/smithsonian/3397795989/
                                    Fonte: http://www.mosi.org.uk/media/33871089/drkathleendrew-baker.pdf
Nós todos sabemos a importância econômica das algas para os povos orientais, principalmente os japoneses. Uma das algas mais utilizadas na alimentação dos japoneses é a conhecida Nori, pertencente ao gênero Porphyra (foto). Utilizada na parte externa do conhecido bolinho de arroz, o Sushi (foto).

                                                           Fonte: http://www.seaweed.ie/aquaculture/noricultivation.html
                                                    Fonte: http://cozinhajaponesa.com.br/japao/historia-do-sushi-origem-tipos/

Em 1948, devido a descuidada utilização de fertilizantes associado a desastres climáticos (tufões), a produção de Nori estava nos mais baixos índices da história e os pesquisadores não tinham uma resposta técnica que pudesse ajudar aos fazendeiros além disso a colheita das lâminas de Nori ocorre no inverno quando as águas japonesas estão mais geladas.
                Desconhecia-se o ciclo de vida desta alga, só conhecido no ano seguinte a partir dos estudos de Kathleen, em 1949, com a espécie Porphyra umbilicalis.
                O gênero Porphyra apresenta um ciclo de vida onde uma das fases é microscópica e outra macroscópica. A fase microscópica é filamentosa e ocorre no interior de conchas vazias de moluscos.
 
                              Adaptado de: http://www.fao.org/fishery/culturedspecies/Porphyra_spp/es

               Com esta descoberta estava salvo o cultivo comercial de Nori, tendo a produção pulado de 3000 a 5000 toneladas antes deste trabalho para 5000 a 35000 toneladas após as novas técnicas.

                 Gratos a este feito, em 1963 (6 anos após a morte da cientista) foi erguido um monumento(foto) no Parque Sumiyoshi, na cidade de Uto em Kumamoto (Japão), um local muito arborizado com muitas hortênsias à 70 metros de altitude. Todo 14 de abril (data do falecimento) é realizado o Festival Drew que homenageia a autora, como forma de agradecimento do povo japonês pela contribuição das descobertas de Kathleen. Sendo chamada pelos japoneses de “Mãe do Mar”.