terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Asparagopsis taxiformis

Vou iniciar este blog com uma espécie que é uma saga ficológica, pois envolve muitos nomes importantes dentro da ficologia quanto ao seu incrível ciclo de vida, assim como o seu possível comportamento bioinvasor e das possibilidades de utilização dos compostos químicos produzidos por este organismo.
                             Fonte: http://www.coralreefecosystems.org/index.php?page=photos

O ano era 18401, o pesquisador já tinha participado da invasão de Napoleão ao Egito com apenas 14 anos, foi médico e cirurgião e aos 48 anos reformou-se e passou a estudar os organismos criptogâmicos (na época, o conjunto de musgos, algas, liquens e fungos), tendo trabalhado inclusive com material oriundo do Brasil, a partir de coletas de Saint Hilaire2. Estou falando de Jean Pierre François Camile Montagne3. Nesta data foi descrito o gênero a partir da espécie A. delilei.


Hoje são conhecidas e aceitas nove espécies (além de dois nomes infraespecíficos) de Asparagopsis 4.
        O ciclo de vida das espécies deste gênero foi relatado pela primeira vez pelo casal Feldmann: Jean e Genevieve em 19395. O Professor Jean Feldmann foi o primeiro presidente da Sociedade Internacional de Ficologia (IPS). O casal descobriu que a espécie Falkenbergia rufolanosa era na realidade a fase esporofítica de Asparagopsis armata, plantas com morfologias muito diferentes entre si (ver figuras abaixo) 6.

O ciclo da espécie aqui contemplada, foi completado por Chihara (1961) 7 no Japão e com Rojas (1982)8 na Venezuela.
O ciclo de vida de vida é do tipo trigenético heteromórfico9 e poderíamos exemplificá-lo no esquema abaixo:


Aspargopsis taxiformis é encontrada no Brasil e já foi citada para vários locais de nossa costa10:
        Além de muitos outros.

Asparagopsis armata assim como seu esporófito (Falkenbergia rufolanosa) são citadas como bioinvasores em vários locais do planeta no clássico livro de Charles Elton (1958) 11, e o próprio autor cita textualmente:

                “There is one other species of Asparagopsis
 that has a world-wide distribution in tropical
 oceans, but this may be natural.”

        Poderia ele estar se referindo a Asparagopsis taxiformis, no entanto não ficou claro...
       
        Recentemente, coletando em Angra dos Reis, encontrei uma grande floração desta espécie e ao coletá-la, sofri uma crise de alergia pelo contato com esta alga. Não muito tempo atrás, tinha sofrido uma crise também com uma bolsa que recebi em um congresso lá em Santos... a bolsa tinha a mesma cor da Asparagopsis... aquela cor vinho característica da Asparagopsis brasileira. Portanto, cuidado também!
        Em uma pesquisa antiga que realizei na mesma área, conclui que a presença de Asparagopsis taxiforme como epífita em Avrainvillea elliottii apresenta uma fico-comunidade com maior diversidade (Número médio de espécies), conforme os gráficos abaixo indicam.

Estudos12 indicam que a presença de espécies produtoras de metabólitos secundários fomenta a diversidade biológica nos locais onde vivem.

Muitas informações são encontradas quanto aos metabólitos produzidos por espécies de Asparagopsis, tais como:

  1. McConnell,O. and Fenical,W. 1977. Halogen chemistry of the red alga Asparagopsis. Phytochemistry. Vol 16:367-374.

b.       Andreakis,N. Et al. 2007. Phylogeography of the invasive seaweed Asparagopsis (Bonnemaisoniales, Rhodophyta) reveals cryptic diversity. Molecular Ecology. Vol.16:2285-2299.

  1. Chualáin, F.N. et al. 2004.The invasive genus Asparagopsis : Molecular systematics, morphology, and ecophysiology of Falkenbergia isolate. J.Phycology. vol.40:1112-1126.
  2. Genovese,G. Et al. 2009. The Mediterranean Red Alga Asparagopsis: A Source of Compounds against Leishmania. Mar.Drugs. vol.7:361-366.


REFERÊNCIAS

*1. Montagne,C. 1940. Phytografia canariensis. In: Webe,P.B. et Berthelot,S. Historie naturelle des Iles Canaries. T.33, Paris.
*2. Montagne,J.F.C. 1939. Cryptogamae Brasilienses seu plantae celulars quas in itinere per Brasilian a celeb. Auguste S. Hilaire collectas recensuit observationisbusque ilustravit. Ann.Sci.Nat.Bot.12:42-44, pl.1.
*5. Feldmann,J. et Feldmann,G.M. 1939. Sur le developpement des carpospores et l’alternance de generations de l”Asparagopsis armata. Compt. rend. Acad. Sc. T.208. Paris.
*6. Altamirano,M. et al. 2008. The invasive species Asparagopsis taxiformis on Andaluzian coasts: Reproductive stages, new records and invaded communities. Acta Bot. Malacitana. 33:5-15.
*7. Chihara, M., 1961. Life cycle of Bonnemaisoniaceous algae in Japan (1). Sci. Rep. Tokyo Kyoiku Daiq. Sect-B, 10:121-154.
*8. Rojas, J.J. et al. 1982. El ciclo vital "in vitro" del alga marina roja Asparagopsis taxiformis del Mar Caribe. Bol. Inst. Oceanogr. Univ. Oriente, 21:101-112.
*9. Yoneshigue-Valentim, Y. 2002. Ciclos de Vida de algas marinhas pluricelulares. In: Pereira & Soares-Gomes (org). Biologia Marinha. Cap. 4.
12. Pereira, R.C. 2002. Ecologia Química Marinha. In: Biologia Marinha. Pereira, R.C. & Soares-Gomes, A. (org). Ed. Interciência.
       
        Espero que tenham gostado do tema. Estou abrindo para outras discussões e sugestões. Juro que tentei ao máximo ser o mínimo acadêmico possível.
        Um abraço para todos.