Entendam que isto não é um curso
sobre Análise Direta de Gradientes utilizando-se o continuum, mas uma forma de
divulgar esta visão que é pouco usada na ecologia terrestre e nunca usada (que
eu saiba!) na ecologia marinha.
Já a utilizei em dois momentos distintos e encontrei
resultados muito bons. Ao apresentar este trabalho na 5ª Reunião Brasileira de
Ficologia todos ficaram surpresos com as curvas apresentadas no gráfico final e
pela objetividade da informação final também.
Existem três
formas dos ecólogos enxergarem uma comunidade:
1. As comunidades são unidades discretas
da vegetação, possuindo mecanismos de controles homeostáticos. Esta é a escola
de Clements-Tansley.
2. A comunidade é uma coleção de
populações que apresentam as mesmas necessidades em relação ao meio. Esta é a
escola de Gleason, e
3. Os ecólogos que consideram a
comunidade como um continuum, onde ocorre uma mudança ordenada e gradual da
comunidade ao longo de um gradiente ambiental. Esta é a escola de Wisconsin.
Quanto
ao continuum, imagine o exemplo típico de uma vegetação cobrindo uma elevação;
como demonstrada abaixo:
Observamos de imediato uma zonação que acompanha a altitude.
No entanto, podemos descrevê-la como unidades discretas se assim desejarmos:
Observamos 5 comunidades
caracterizadas pela presença de determinadas espécies e suas quantidades
(dominâncias). No entanto, se analisarmos a distribuição de cada espécie em
relação a presença em uma escala de altitude percebemos o seguinte gráfico:
Notamos que as espécies melhor se
adaptam em determinadas seções e se distribuem de acordo com a altitude.
Obviamente, a altitude é um fator na distribuição das espécies que formam este
ambiente. No entanto, este modo de conceber a comunidade mostra uma diminuição
e um aumento da população de determinada espécie sempre de forma gradual e
ordenada.
Os
dados aqui apresentados foram tirados de minha pesquisa na cidade de Angra dos
Reis (RJ) e tem os seguintes objetivos:
·
Amostrar
as comunidades ficobentônicas da região de Angra dos Reis (RJ) influenciadas
pelo Porto da cidade.
·
Utilizando
o método do continuum, produzir um gráfico mostrando esta influência.
AMOSTRAGEM
a. Pontos de Coleta: 3 Estações de
coleta de dados a partir da distância do Porto de Angra dos Reis (RJ). As estações serão aqui denominadas
Porto, Contorno (2 km do Porto) e Figueira (7 km do Porto).
b. Amostra: Quadrado de 40x40 cm com 100
malhas internas.
c. Total de quadrados analisados: 15
quadrados por estação.
d. Valor de cobertura: Presença e
dominância nos quadriculados.
RESULTADOS
(A) Abaixo está indicado o número de
quadriculados por espécies em cada estação de coleta:
(A) Agora é determinar as espécies
dominantes em cada amostra (em amarelo na figura anterior) e determinar o número
de adaptação clímax.
Notamos que em cada estação de
coleta os dominantes são as espécies típicas daqueles ambientes, portanto
daremos um índice para cada espécie destas regiões em uma faixa de 1 a 10,
sendo que as espécies dominantes nos stands do Porto os menores valores e os do
stand da Figueira os maiores valores, pois é exatamente a distância do Porto
que caracteriza este continuum.
A partir da determinação destas
espécies características e dominantes em cada ponto de coleta, deu-se um índice
para cada espécie da seguinte maneira:
(C) Agora é calcular o Índice continuum
de cada amostra. Para isso utilizei:
CA: Cobertura Absoluta: Número de quadriculados em cada
amostra.
CR: Cobertura Relativa: Percentual do número de
quadriculados em cada amostra em quadrados com vegetação.
NAC: Número de Adaptação Clímax de cada espécie.
IVI:Valor de Importância de cada espécie na amostra =
CA+CR
Indice Contínuum: Somatório Total de IVI.
Veja o
exemplo abaixo:
AMOSTRAS ESTAÇÃO PORTO
AMOSTRAS DA ESTAÇÃO CONTORNO
AMOSTRAS DA ESTAÇÃO FIGUEIRA
Agora é só
ordenar as amostras de acordo com o seu INDEX CONTINUUM (IC), conforme exemplo
abaixo:
Não estão
contempladas todas as espécies, apenas algumas espécies típicas de cada estação
amostrada foram apresentadas. Nota-se, porém que estão ordenadas de forma
crescente de Índex continuum (segunda coluna).
O próximo passo é padronizar o espaço que
separa as amostras já ordenadas pelo IC. Neste caso padronizaremos a cada 50
unidades de IC, conforme exemplificado abaixo:
Agora é
calcular a média de cada espécie dentro de cada stand de acordo com os valores
em cada amostra já ordenada por IC. Veja como ficariam as primeiras espécies:
Ao postar
os valores encontraremos curvas como a abaixo demonstrada, referente aos
valores para Enteromorpha sp:
Para dar a idéia
de continuidade e suavizar a linha os valores são “amortizados” utilizando-se a
fórmula abaixo:
Onde:
B=
Valor amortizado do stand principal
n1 e
n3 = índice continuum dos stands vizinhos ao stand principal
n2 =
índice continuum do stand principal
a e c
= média do valor de importância dos stands vizinhos
b=
média do valor de importância do stand principal.
Com estes valores o traço da curva fica
mais definido e dentro da proposta continuísta.
Abaixo estão postados os valores finais, já
amortizados para as espécies principais das amostras realizadas:
O
gráfico final está abaixo onde se observa um hiato entre as amostras entre o
Porto e o Contorno. O mesmo não acontece entre o Contorno e a Figueira, onde tiramos
a conclusão que a 2 km do Porto ainda encontramos situações próximas das
regiões não atingidas pela poluição.
Outros, muitos outros aspectos podem ser
discutidos a partir deste gráfico que encontramos nas referências ao final deste
manual.
Todos
os procedimentos podem ser trabalhados utilizando-se uma planilha de cálculo já
que as fórmulas são muito simples e as decisões mais importantes partem da
sensibilidade do pesquisador, ao contrário dos pacotes de ordenação onde todo o
processo fica a cargo do software.
REFERÊNCIAS
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J. T., and R. P. McIntosh. 1951. An Upland Forest Continuum in the
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Austin, M.P. Vegetation and environment:
discontinuities and continuities. In van der Maarel(Ed).
Vegetation ecology. Wiley and Blackwell.
parabéns pelo trabalho! você voce deve publicar seus dados em uma revista cientifica.
ResponderExcluirum abraço.
Diaz, infelizmente sem uma instituição por trás como uma universidade ou centro de pesquisa a comunidade científica não aceita. Não quero me comparar a outros mas para a publicação do ciclo de Kreebs o cientista teve que batalhar muito e sabemos da importância do fenômeno. Um abraço.
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