EFEITO CANOPY EM UMA COMUNIDADE
ASSOCIADA À Sargassum cymosum
José Antonio Muniz
1989
INTRODUÇÃO
A
presença de densos bancos de Sargassum
em ambientes intermareais no sudeste brasileiro é mencionada há bastante tempo
atrás (Joly, 1965).
Embora
presentes em todos os primeiros grandes levantamentos da costa brasileira
(Joly, 1965, Yoneshigue-Braga, 1970 e Ugadim, 1973) apenas a partir do final da
década de 80 os aspectos ecológicos e quantitativos deste nicho foram estudados
(Paula, 1988; Paula & Eston,1987; Eston,1987; Paula & Oliveira
Filho,1980 e Paula & Oliveira, 1982).
O
gênero Sargassum e suas espécies
presentes em ambientes do sudeste brasileiro foram bem delimitados em Paula
(1988) assim como o comportamento e relações destas comunidades (Oliveira Filho
e Mayal, 1976; Paula e Oliveira Filho, 1980 e Oliveira Filho e Paula, 1983).
Figura 1 - Mapa de localização da Praia da Figueira - Angra dos Reis(RJ) |
Analisando-se
duas populações de Sargassum cymosum
C. Agardh exposta a condições diferentes de exposição às ondas mostraram
comportamento fenológico e morfológico diferenciado (Paula & Oliveira
Filho, 1980 e 1982).
A
utilização da metodologia da morfofuncionalidade do talo de algas bentônicas
(Littler & Littler, 1980) acrescentaram muitos subsídios à compreensão do
seu papel ecológico e fisiológico, reduzindo a amostragem a uma condição de
melhor entendimento das suas reais influências nos locais onde subsistem, sem perda da informação.
O
objetivo deste trabalho é comparar as comunidades de macroalgas na presença e
na ausência de Sargassum cymosum em
suas amostras, quanto a sua especificidade e pela distribuição dos seus grupos
morfofuncionais durante uma estação anual em um costão semi-protegido da Praia
da Figueira em Angra dos Reis (RJ).
MÉTODOS
Utilizando-se
de um quadrado de 50 cm de lado, subdividido em 100 quadrículas, contabilizou-se
a cobertura de quinze amostras das macroalgas existentes na região
infra-litoral de um costão semi protegido a leste da Praia da Figueira, Angra
dos Reis (RJ), em cada estação do ano durante um ciclo anual (Figuras 1 e 2).
As
amostras foram tomadas aleatoriamente, utilizando-se de um cordão numerado e de
uma tabela de números aleatórios (Kershaw & Looney, 1985).
As
amostras foram ordenadas utilizando o método da ordenação polar (Bray &
Curtis, 1957). Os valores de cada alga em cada microambiente foram tabelados
para comparação.
A
medida de similaridade utilizada foi a Distância Euclidiana com transformação
pela raiz quadrada.
Para
análise da normalidade das amostras utilizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov.
As
macroalgas foram classificadas em cada grupo morfofuncional em que se encontra,
conforme Littler & Littler (1980).
RESULTADOS
A. Ordenação
Polar
A ordenação polar de cada grupo de
amostra por estação do ano aponta claramente para formação de grupos
influenciados pela presença de Sargassum cymosum ou não (Figura 3).
Exceto no inverno, grupos de amostras
onde a presença de Sargassum cymosum
era pequena ocorreram entre amostra com ou sem a presença desta espécie; estas
amostras não estão incluídas na análise da distribuição e sazonalidade dos
organismos da comunidade, provavelmente foram lançadas na borda da população de
Sargassum cymosum.
A. Estrutura
da Comunidade
Os valores médios de cada espécie em
cada estação do ano e em amostras com a presença ou ausência de Sargassum
cymosum encontram-se na figura 4.
Estes valores foram transformados em um gráfico (Figura 5) onde percebemos as diferenças entre a composição
específica de cada microambiente.
Figura 4 – Média aritmética dos valores de
cobertura de cada espécie em amostras com a presença de Sargassum cymosum (COM) e sem a presença de Sargassum
cymosum (SEM) em cada época do ano.
|
Figura 5 – Valores de importância de cada
espécie dominante nas amostras sazonais com ou sem a presença de Sargassum
cymosum.
|
Áreas dominadas por Sargassum cymossum
apresentaram as seguintes espécies dominantes na estação da Primavera:
·
Gracilaria dominguensis
·
Padina vickersiae
·
Amphyroa brasiliense
·
Jania adhaerens
·
Gracilaria ferox
·
Acanthophora spicifera
Dominantes na estação do Verão:
·
Padina vickersiae
·
Amphyroa brasiliense
·
Asparagopsis taxiformis
·
Dictyota cervicornis
Dominantes na
estação do Outono:
·
Asparagopsis taxiformis
·
Padina vickersiae
·
Acanthophora spicifera
·
Gracilaria dominguensis
Dominantes na estação do Inverno:
·
Amphyroa brasiliense
·
Acanthophora spicifera
·
Gracilaria ferox
Comunidades sem a presença de Sargassum
cymosum apresentaram as seguintes espécies dominantes na estação da Primavera:
·
Asparagopsis taxiformis
·
Sargassum filipendula
·
Dictyota cervicornis
·
Acanthophora spicifera
·
Gracilaria ferox
·
Gracilaria dominguensis
·
Acanthophora spicifera
·
Gracilaria sjoestedtii
·
Gracilaria dominguensis
·
Heterosiphonia gibbesii
·
Gracilaria sjoestedtii
·
Asparagopsis taxiformis
Na estação do Inverno:
·
Asparagopsis taxiformis
·
Acanthophora spicifera
·
Gracilaria ferox
A. Grupos
morfofuncionais
Observando as figuras 6 e 7
podemos comparar a estrutura de cada comunidade de acordo com a presença de cada
comunidade de acordo com a presença de determinado grupo morfofuncional em cada
estação do ano.
Figura 6 – Valores de importância
(cobertura) de cada grupo morfofuncional existente nas comunidades com a
presença (COM) e ausência (SEM) de Sargassum
cymosum em cada época do ano.
|
Observamos
também que o grupo das coriáceas domina em todas as estações do ano com exceção
do inverno (em ambas as amostras).
Na presença de
Sargassum cymosum, o grupo das
calcárias apresentaram maiores valores de cobertura, com exceção do outono.
As coberturas dos grupos de
folhosas e calcárias foram insignificantes em comunidades sem a presença de Sargassum cymosum, embora o grupo das
calcárias apresentarem valores significativos na presença de Sargassum cymosum,
com exceção do outono.
A cobertura do grupo das
filamentosas difere substancialmente nas duas comunidades analisadas com
exceção do outono, onde apresentaram significativas coberturas.
Analisando a figura 8 podemos observar que as
maiores diferenças entre as duas comunidades encontram-se na estação do verão;
ocorrendo diminuição na cobertura dos grupos: Ramificadas (COM), Coriáceas
(COM) e Filamentosas (SEM) e na estação do inverno na cobertura dos grupos:
Ramificadas (COM), Filamentosas (COM) e aumento no grupo das Calcárias (COM).
O
desaparecimento de uma espécie habitante de um costão rochoso propicia espaço
para outros organismos que recrutam este em um embate físico e biológico (Connell
& Slatyer, 1977; Sousa, 1984 e Dayton, 1984).
Sendo as espécies de Sargassum habitantes frequentes de
costões do sudeste brasileiro (Paula, 1978 e Eston et all, 1986), sua presença
ou não determina condições para a existência de diversas espécies que se
utilizam daquela espécie de Sargassum para suas sobrevivências (Eston, 1987).
Encontram-se espécies de
Sargassum férteis o ano todo (Paula e Eston, 1987) e já foi confirmado que a espécie
trabalhada nesta comunicação libera oosfera independente da temperatura
ambiental (Paula, 1984).
O tamanho de Sargassum cymosum
influi na própria densidade da espécie e, o ato de varrer constantemente o
substrato elimina e/ou evita o recrutamento de outras espécies (Paula, 1978),
assim como para outras espécies em ambientes não tropicais tais como Laminaria (Velimirov & Griffiths,
1979) e Cystoseira (Dayton et al,
1984).
O efeito do sombreamento também é um fator decisivo no estabelecimento de algas sob populações de Sargassum (Eston, 1987).
Ao contrário das estruturas das comunidades encontradas em populações de Sargassum stenophyllum descritas para o litoral de São Paulo (Eston, 1987), as comunidades encontradas neste estudo mostraram duas comunidades distintas, influenciadas pela presença da espécie canopy e pelas mudanças sazonais.
A utilização da metodologia dos grupos morfofuncionais (Littler & Littler, 1980) facilitaram a compreensão da estrutura e comportamento das espécies frente a cobertura da macroalga e das mudanças referentes as estações sazonais.
O efeito do sombreamento também é um fator decisivo no estabelecimento de algas sob populações de Sargassum (Eston, 1987).
Ao contrário das estruturas das comunidades encontradas em populações de Sargassum stenophyllum descritas para o litoral de São Paulo (Eston, 1987), as comunidades encontradas neste estudo mostraram duas comunidades distintas, influenciadas pela presença da espécie canopy e pelas mudanças sazonais.
A utilização da metodologia dos grupos morfofuncionais (Littler & Littler, 1980) facilitaram a compreensão da estrutura e comportamento das espécies frente a cobertura da macroalga e das mudanças referentes as estações sazonais.
REFERÊNCIAS
Bray,
J. R. and Curtis, J.T. 1957. An Ordination of the Upland Forest Communities
of Southern Wisconsin. Ecological Monographs 27:325–349. [Link]
Connell, J.H. and
Slatyer, R.O. 1977. Mechanisms of succession in natural
communities and their role in community stability and organization. Am. Nat.
111:1119-1144.
Dayton, P.K. 1984. Processes
structuring some marine communities: are they general? In Strong, Simberloff,
Abele & Thistle(ed). Ecological communities: conceptual issues and evidence.
Princeton Univ. pags.191-197.
Dayton, P.K.; Currie, V.; Gerrodette, T.; Keller, B. D.;
Rosenthal, R. and Ven Tresca, D. 1984. Patch
dynamics and stability of some California kelp communities. Ecol. Monogr.
54:253-289.
Eston, V.R.; Migotto, A.E.; Oliveira Filho, E.C.; Rodrigues, S.A. &
Freitas, J.C. 1986. Vertical distribution of benthic marine
organisms on rocky coasts of the Fernando de Noronha Archipelago. Bolm.Inst.Oceanogr.
34:37-53.
Eston,V.R. 1987. Avaliação experimental da dominância ecológica em
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USP.
Joly, A.B. 1965. Flora
marinha do litoral norte do Estado de São Paulo e regiões circunvizinhas.
Boletim da Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade de São Paulo
294:1-393.
Kershaw, K.A.
and Looney, J.H.H. 1985. Quantitative
and dynamic plant ecology. 3ª Ed. Edward
Arnold.
Littler, M.M. and Littler, D.S.
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of thallus form and survival strategies in benthic marine macroalgae: Field and
laboratory test of a functional form model. Amer.Natur. 116:25-44. [Link]
Paula, E.J. & E.C. Oliveira Filho. 1980. Aspectos
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Paula, E.J. & Oliveira Filho, E.C. 1982. Wave exposure and ecotypical differentiation in Sargassum
cymosum (Phaeophyta - Fucales). Phycologia 21:145-153.
Oliveira Filho, E.C. & Paula, E.J. 1983. Aspectos
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costões rochosos do litoral norte do Estado de São Paulo. Publicações do
Instituto de Pesquisas da Marinha 147:44-71.
Oliveira Filho, E.C. & Mayal, E.M. 1976. Seasonal distribution of intertidal organisms at Ubatuba,
São Paulo (Brazil). Revista Brasileira de Biologia 36: 305-316.
Paula, E.J. 1978.
Taxonomia, aspectos biológicos e ecológicos do gênero Sargassum no litoral do Estado de São Paulo. Dissertação de
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Paula, E.J. 1988. O gênero Sargassum
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Sousa, W.P.
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disturbance in natural communities. Ann.Rev.Ecol.Syst.
15:353-391.
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Estado do Paraná. II. Divisão
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Velimirov, B.
and Griffiths, C.L. 1979. Wave induced
movement and its importance for community structure. Bot.Mar. 22:169-172.
Yoneshigue-Braga,
Y. 1970. Flora marinha bentônica da Baía de Guanabara e cercanias. II. -
Phaeophyta. Instituto de Pesquisas da Marinha, Rio de Janeiro, Publicação 45,
p.1-31.
Observações: A nomenclatura foi mantida.
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